quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Palavras em uma imagem

Para este conto que vem a seguir, eu sugiro uma ouvida na música Por Amor Al Art do Orishas. Pequena homenagem a Lu, as quais tirei as fotos mais lindas até hoje, e a Isabella, que me ensinou o que um cara "fofo". E o que significa alguém fofo. =]


"Fotografar é algo que não tem como descrever em poucas palavras. É colocar um sentimento único e seu em um momento único no espaço-tempo, que, na maioria das vezes, pedimos para ser eterno. É roubar um pedaço do tempo de um mecanismo que é tão maior que a gente... é a maior invenção do homem, no tocante a nossas representações, é a que congela o que pensamos, o que queremos, às vezes melhor que um livro."

Assim, o fotógrafo gesticulava no final das suas aulas. Poucos alunos entendiam na hora, mas ficavam tranqüilos: estavam a frente de um dos "papas" da fotografia mundial; e, outra!, tudo que ele dizia vinha escrito nas apostilas dele (referências na fotografia).

E a maioria não entendia um outro porquê: o dele ainda fazer coberturas de festas, de gente rica à inauguração de lajes na periferia. Ele dizia que adorava fotografar gente; porque isso o completava, e completava suas percepções de mundo. Umas de suas melhores fotos é uma que estão 3 pessoas, humildes, rindo de um outro que conta uma história divertidíssima em uma bar de esquina numa periferia da Cidade do México. O que ele captava era, sem dúvida, a essência da pessoa, na maioria das vezes; exclui-se aí as vezes que ele tirava fotos prontas, com pose, essas mesmas que ele não gostava tanto em relação às naturais, mas amava conseguir captar o sentimento da pessoa mesmo com aquela preparação toda.

Mas, hoje seria diferente. Ele foi contratado para cobrir um casamento em uma belíssima fazenda. Quando chegou lá, se deparou com um cenário maravilhoso: cheio de flores, o lugar inteiro cheirava a uma fragrância tão gostosa de perfume que chateava! Muita gente bonita. Muita comida, mas comida fina; drinks maravilhosos; uma banda tocando músicas bem cheias de swing. Swing que o contagiou e que, discretamente, fazia-o dançar alguns compassos da música entre uma foto e outra.

Entre uma foto e outra, entre um agradecimento e outro, ele vê, como um raio, uma mulher linda passar a sua frente, à uns 15 metros... que se perde no meio de todos dançando. Em um vestido estampado de rosa e verde extremamente lindo, ela vai bailando e meio que fugindo da lente do nosso fotógrafo.

Mulheres são seres especiais. Por um lado, um tanto (muito) provocativas, mas que passam a idéia de que não estão prestando atenção em nada do que ocorre ao seu redor e que nem querem chamar a atenção de alguém (sendo que é exatamente o inverso o que ocorre). E essa técnica faz que elas brilhem mais e mais quando querem. Assim, utilizando esse poder, ela pressente que está sendo fotografada e começa a se exibir para o fotógrafo.

Esse, que a tem em seu foco já fazia um tempo e tirava as fotos mais lindas que ele já viu. E nisso, ela vai se aproximando, até que ela começa a tirar as fotos olhando para a câmera. Ah! Nosso fotógrafo está hipnotizado... parece que pela lente da máquina ela ficava mais linda ainda! Mas, quando ele a olhava sem ser pela máquina, ela ficava mais linda ainda, pois estava em movimento. Até que...

Até que ela vem conversar com o fotógrafo:

- Como ficaram as fotos? Boas?

Com uma cara meio de bobo, ele responde que sim com a cabeça, não falando nada... mas com a boca meio entreaberta.

- Te deixei sem palavras?

Essa pergunta já quebrou o gelo por completo, e ele, com um jeito já maroto, como quem já está flertando, faz um sinal com a cabeça como quem diz: "quem sabe, né?".

Ela, como não ainda não ouviu nenhuma palavra dele, diz, tomando a câmera da mão dele:

- Deixe eu tirar uma foto sua então para você ver como você está!

Depois do flash, a foto sai com o fotógrafo com a cara um pouco assustada. Ele, rindo ao ver a foto, pega a máquina e gesticula para uma foto juntos; ela diz sim e ele mesmo bate a foto dos dois, de rosto colado. Ah! Que foto.

Ele não diz nada e ela, alegre e interessada naquilo tudo que ocorreu, diz:

- Pelo visto, você não quer falar, ok. Quando quiser estarei por aí.

Nosso fotógrafo não tem tempo de explicar ou falar nada para ela, e aquela deusa vai dançar no meio da multidão. O fotógrafo corre até o carro dele, onde estão os outros objetos de trabalho dele, e imprime 3 fotos: a dele, a dos dois e uma dela - a mais linda. Escreve alguma coisa atrás das fotos e corre de novo para encontrá-la. Não podia perder um minuto.

Ele a acha, numa roda de homens, todos com olhares de desejo, e o fotógrafo, num movimento de filme a retira dali antes que algum dos homens fique estressado com a falta dela na roda. Com ela em frente a ele, ela diz:

- Vai falar algo agora?

Ele não diz nada e entrega as 3 fotos. Ela as pega, olha e diz que estão extremamente lindas - inclusive a dele todo desajeitado que ela a adjetiva como "fofa". Mas, ela não entende o por quê dele não falar nada. Ela faz cara de quem não está entendendo nada e ele indica que ela deve virar as fotos.

Na foto dela sozinha, estava escrito: "como ter palavras diante de uma mulher tão linda?", o que arrancou aquele belíssimo sorriso dela. Na dele, "viu? é impossível falar algo em frente a você, sendo mudo (como eu sou!) ou não!", o que deixou ela um pouco sem graça. E na dos dois: "mas, esse problema de comunicação não será problema para nós!", o que derreteu ela.

Agora, o fim todos já sabem... chega a ser chato de tão previsível, como também o sentimento captado pela foto dos dois, não é? Não duvido que o fotógrafo agora tem uma bela história para comprovar sua definição tão amorosa sobre a fotografia, feita sempre no final das suas aulas.