domingo, 16 de dezembro de 2007

Falando como um hipotálamo inconveniente.

Frank Sinatra não foi um ser humano. Foi algum pedido atendido de uma mulher desesperada por um homem perfeito... daí veio o blue eyes. Minha dúvida é: que mulher com uma mente tão desenvolvida pediu um cara como ele? No meu simples julgamento, não há rapaz melhor para externar seus sentimentos por uma moça em especial. No podcast, ele moendo com Loves been good to me. Clica em play e vai lendo o conto. Acabou a música, mas o conto não? Clica no play de novo, faz favor!

p.s.: dedico a uma amiga, a Gaybis que anda odiando algumas substâncias produzidas pela seu hipotálamo e adora ir na casa do Pedrinho.


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No canto da festa, o rapaz pensava no seu hipotálamo. Ele já tinha decorado para quê que servia aquela amêndoa embaixo do tálamo: "controla a temperatura corporal, o apetite e o balanço de água no corpo, além de ser o principal centro da expressão emocional e do comportamento sexual"; e ele odiava seu hipotálamo no momento, mas, no fundo, gostava dele por não lhe dar um dúvidas do comportamento sexual: ele era hétero. Entretanto, nem isso diminuía sua raiva pelo seu próprio hipotálamo.

Hipotálamo, este, que se comportava muito mal nos últimos meses. Um pé no saco. O confundia, o estressava, o deixava triste por nada, o deixava alegre por ser livre... não tinha um comportamento contínuo, não seguia uma linha, nem que fosse depressiva-compulsiva: ele não se decidia. Convenhamos que ele passou um período de adaptação em relação ao último relacionamento coordenado por ele, mas, peraí! - pensava o rapaz - aí já tinha virado bagunça.

O rapaz tinha encrencado que seu hipotálamo era o responsável pelo seu faro por outras mulheres. E estava errando demais: deixava ele ansioso ao ver uma nova possibilidade, deixava ele nervoso na espera por notícias de uma nova possibilidade, e, no fim, sempre tinha apontado para a mulher errada.

O show continuava e sua cara de insatisfação piorava. O seu hipotálamo, na melhor das intenções, o avisa que isso estava espantando as mulheres e que chamaria o sono já já caso ele não parasse com essa bobeira. Agora o cara ria do coitado: agora esse maledetto quer ajudar, é? Então, o rapaz começou a pensar em tudo que estava acontecendo, todos os seus relacionamentos até o momento. Em um julgamento um pouco superficial, achou que não tinha feito lá muita sacanagem para merecer tamanha sacanagem do seu hipotálamo.

A festa continuava, ele decidiu que ia convidar alguém para dançar, sem pensar no que já tinha acontecido em seus relacionamentos. Seu hipotálamo, inconveniente, não diz nada. Ele liga o radar, com a ajuda do inconveniente, e procura as moças. Acha uma, cruza o olhar com ela, ela ri, o hipotálamo cuida de fazê-lo suar um pouco, dar um pequeno nó na barriga e encher seu coração de dúvida e uma dor estranha. Seria uma ligação com o seu passado que o hipotálamo estava tentando deixar conectada? Por um segundo, percebeu que quem estava com mais medo de toda essa nova vida era o maldito pedacinho de massa cerebral abaixo do tálamo.

Riu dessa pequena amêndoa com tanto poder que, apesar de tanto, é mais covarde que o resto. Disse para o seu hipotálamo: "calma! Eu estou no comando agora...", e, na hora, não titubeou ao analisar se uma pessoa que tem um relacionamento tão próximo com seu hipotálamo não precisaria de um psiquiatra. Apagou esse pensamento negativo para não trazer azar. E ele podia ser tudo, menos maluco. Tinha certeza.

Ao se dirigir ao encontro da moça, numa última tentativa desesperada, o hipotálamo fez suas pernas balançarem, dizendo que "não! Eu ainda não estou pronto!". Nada feito: balanceamento totalmente controlado e que, cuja vitória sobre o desesperado, foi externada com um belo sorriso do nosso rapaz! Falou para si mesmo: "parabéns!" e continuou, com uma confiança de um leão frente a sua presa.

Já a moça sentiu uma mistura de um pequeno prazer, uma vez que seria abordada com tamanho sorriso bonito, mas uma pequena dúvida sobre qual o motivo de tal sorriso. Pensou se ele não a confundira com uma grande amiga ou se ria para outra pessoa a não ser ela... e o rapaz chegava mais perto e tudo piorava... chegou sua visão a ficar turva. Olhou para o lado, pois uma amiga tinha-a cutucado e sussurrado em seu ouvido: "eu falei que ele estava te olhando!". Apesar de poder considerado um comentário que traga mais confiança, foi o inverso: ela queria gritar e, não sabia por quê, dar uma estrela e duas cambalhotas. Suas pernas quase estavam saindo sozinhas fazendo uma bela cena no salão quando o rapaz fala "com licença...".

Muito bem, conversaram. Ambos hipotálamos trabalhavam para o bem da tão nova relação. No fim, nem precisavam se beijar, abraçar, nem nada. As pequenas amêndoas de massa cinzenta dos dois trabalhavam uníssonas, como um relógio, com o mesmo objetivo. Se quisessem abrir uma sinfônica de hipotálamos, seria um sucesso: um assunto emendava no outro, uma dança era melhor que a outra, até os telefones de contato dos dois eram quase iguais - dois números diferentes - e da mesma operadora, o que significava que sairá mais barato os inúmeros minutos de conversação que terão.

Daquela noite, os dois foram embora sorridentes, contaram aos amigos das possibilidades, se encontraram novamente, e tudo mais... e os hipotálamos? No momento, em uma pretensiosa férias para os dois, mas, aquelas malditas amêndoas sabem que elas falam por nós. Esse é o problema.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Mudar a planta de lugar.

Destruindo a mente com Chemical Brothers (de novo?) com a música My Elastic Eye, do CD Come With Us de 2002. E agora com novidade. A partir desse conto, a música vai junto... abaixo tem um podcast com a música. É só clicar no play e começar a ouvir e ler o conto. Agora sim ficou tudo perfeito. Mais informações sobre esse podcasting que estou usando: Odeo.


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Do sofá, se via a planta. De todo lugar se via a planta. A maldita planta via tudo. No sofá, o inimigo "natural" daquela planta a olhava. Com um ódio gigante, apesar de ser uma bela samambaia gigante: presente da mãe para a nova casa. Ele chegava em casa a tarde, a planta o olhava de cima em baixo, como se estivesse verificando se ele tinha feito tudo direitinho no dia.

Nas manhãs de sábado, ela o encarava como se perguntasse se assistir todos os jogos de futebol que passavam na ESPN era o que ele queria para o resto da vida. Nas madrugadas, início das manhãs de domingo, ela o fitava e perguntava o por quê de sair todo dia e beber tanto. Não tinha como, a planta era uma extensão da mãe dele.

No trabalho, ele não sabia o que fazia mais: tinha que aguá-la, cortar as folhas estragadas, conversar com ela - conselho da mãe -, deixá-la tomar sol... e se não fizesse isso a mãe ia ficar muito triste e magoada. Já até imaginou que aquela samambaia era a extensão da mãe, como um espião para lhe mostrar o que ele andava fazendo. Mas, não podia simplesmente matar a samambaia, escondê-la, pô-la no quintal. Era como um cachorro de madame: só podia ficar em casa e tinha muitos tratamentos especiais.

Quando ele ia visitar a mãe, ela tinha mudado completamente. Não pegava mais no pé dele, não criticava seus amigos e "namoradas"; era uma mãe moderna: já utilizava ferramentas da Internet para saber da vida do filho, mas não falava mais do tanto de recados femininos ele tinha no orkut dele e de como ele não tinha uma namorada fixa ainda. Todo dia que ia lá, o café da manhã era especial, e, sempre quando ele chegava, ela perguntava da samambaia. Quando viajava, ele deixava a samambaia com uma vizinha que gostava de plantas.

Na volta para casa, ele pegava a bendita samambaia. A senhora que cuidava dela dizia que nunca tinha visto uma samambaia tão cheia de vida. Em um outro dia, ele, ao sair de casa, deu um beijo na samambaia por engano dizendo "tchau, mãe" e jura ter ouvido um "tchau, meu filho, vá com Deus!"!

Esse assunto já estava deixando-o louco. Foi a uma psiquiatra... o médico receitou para ele descanso. Que a samambaia era uma samambaia e a mãe dele era uma mãe. Disse que era o estresse do trabalho, a vida nova e a falta da mãe. O rapaz não tinha por quê não acreditar. Isso era uma sexta, ligou para a casa da mãe e disse que não ia visitar a família esse fim-de-semana... falou que ia com os amigos a um cruzeiro marítimo no feriadão que começava na sexta mesmo.

Chegou em casa, fez uma mala rápida e partiu para o aeroporto. Os amigos não acreditaram na notícia que ele iria também: era um cara trabalhador, muito responsável, gostava de coisas planejadas com antecedência.

Ao chegar no lugar e partir para pegar o navio, ele ligou para a mãe, a fim de avisá-la de que estava tudo bem e tal. Quando ela atendeu, parecia a samambaia dizendo: "como você se esqueceu de mim?". Não disse nada do esquecimento, mas a voz dela já denunciava uma tristeza sem fim. Perguntou para ela se tinha acontecido algo, ela, com aquela voz benevolente, disse um "sincero" não. Sincero com aspas pois era uma sinceridade que encobria a verdade: ela sabia que a samambaia estava sozinha.

Ele insistiu para a mãe dizer o porquê da tristeza. Nada! Nem com tortura. Ele desligou o telefone e ligou para a senhora sua vizinha. Ela falou que ajudaria, mas não teria como ela entrar na casa! Todavia ela falou que cinco dias ela sobreviveria. Ele chegaria e ela estaria muito seca: era só tratar com muita água, sol e "carinho". Isso o deixou mais tranqüilo. Até esqueceu do problema durante o cruzeiro.

No final do feriadão, a caminho de casa, ligou para a mãe do aeroporto: estava tudo bem. Mas, em casa, ao abrir a porta, viu a samambaia. Rezou para que um milagre fosse operado, todavia, não! Ela estava seca. Achou que até tinha morrido. E nessa hora, um arrepio subiu pela suas costas: se a samambaia podia ter morrido, a mãe...

Ligou para ela. "Alô? Mãe? Tá tudo bem?" e estava tudo bem. Ela estava forte, sem nada. Enquanto conversava com ela e contava como tinha sido o cruzeiro, pensava no psiquiatra... ele estava certo... não tinha nada a ver a mãe e a samambaia. Que associação maluca!

Na despedida do telefone ele manda um beijo para a mãe e ela, antes de desligar, diz: "meu filho, e a samambaia? Ainda bem que não te dei um cachorro, né? Dorme com Deus. Sua mãe te ama!".