Ouvindo 311... I'll be here a while. Sem muitos comentários. Só ouçam.
=] O cara andava no carro com o braço apoiando a cabeça... resignado nos seus pensamentos. E ouvia no radio: "I'll be here a while, ain't going nowhere"... fora a letra que o hipnotizava, a música o mantinha em um estado mais ou menos como se o seu cérebro, ainda que prestando atenção no que estava fazendo e no que deveria fazer (como respirar...), deixasse a mente ir longe. Para lá depois do horizonte. Tão longe que nem a mais alta nuvem dava para ver. E suspirava.
Suspiros não daqueles de novela... forçados... mas daqueles baixinhos, que só o coração ouve; e que depois avisa para o cérebro que ocorreu, para o mesmo enviar aquela feição melancólica para o rosto da pessoa. E não foi diferente com o cara.
Às vezes, com esses sentimentos, nem se sabe o que falta. Ou se falta. Apenas a música faz isso, e isso, apesar da melancolia, é bom: dá uma excelente idéia da nossa pequeninice em relação ao mundo. O cara adorava ouvir essa música, tanto é que se pegava muitas vezes cantando o refrão enquanto trabalhava ou estava parado, sem fazer nada. Ou até imitando os acordes do início da música: tanan-tan-nan-nan-nan-tan-tantan...
São nesses momentos nos quais se se desconecta do mundo ao redor. Só se ouve o barulho maravilhoso do silêncio, e não aquele silêncio vazio, mas como naqueles seriados do Discovery, que mostram os bichos brincando, numa daquelas cenas perfeitas da natureza. O cara conseguia ouvir o som das coisas ao redor do que a tevê mostrava, bem delineado... como uma folha que é pisada pelo ursinho panda numa brincadeira com a mãe, sabe? E registrava cada uma delas, como se fosse única e que nunca mais se repetisse; uma vez que ele sempre achou que um som nunca se repetia. Todo som dependia do momento, acima de tudo.
Mas, o pior era tentar entender como aquela música o afetava tanto. Como que...
"Far is solace in the maddening pace/ sad state written on my face/ not a tight rope walk but dance/ uncertain game of chance/ but I'll see it through in time"
tinha o som perfeito para aquele dado momento; e mesmo que, numa outra vez, sendo o mesmo cara na rádio que pediu a música, o mesmo que colocou para tocar, não ia ser a mesma coisa. Aquele momento estava se esvaindo pelo tempo... e essa era a única idéia plausível para achar que aquela música nunca mais ia se repetir. Ela era única, e estava acabando.
Atrás dos óculos, os olhos se encheram de lágrimas... não sabia mais o que estava acontecendo... e nesse momento:
- Ei, chegamos! Tava viajando, hein? Já pode sair...
O cara responde com um sorriso. Tenta ajeitar o cabelo desarrumado pelo vento, e sai do carro. Fica parado com mais um belo sorriso, olhando para frente. O acompanhante pergunta o que estava acontecendo, preocupado. O cara responde:
- Estou tentando ouvir o horizonte.
O acompanhante lhe entrega a bengala retrátil, o cara ajeita o óculos escuro, tateia o meio fio da calçada com a bengala e pergunta ao acompanhante, na maior felicidade:
- O sol está tão lindo o quanto eu o estou ouvindo?
Amparado pelo braço pelo acompanhante, os dois se dirigem a um lugar que não é necessário saber qual é, mas que será contemplado pela beleza de um outro horizonte: o da nossa própria cabeça.
sábado, 8 de setembro de 2007
Horizonte
Contado por
Don Diego
às
21:58
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3 comentários:
legal a descriçao da musica.
quando se fica famoso se lembra de mim?
parabens... de verdade...
foi seu melhor conto até agora
foi muito bom mesmo
queremos mais posts
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